conversas infinitas

Os resultados das pesquisas precisam chegar na outra ponta, no público alvo!
divulgação científica e mudanças climáticas e...
A crise em curso com as mudanças climáticas antropogênicas exige que as decisões que antes pareciam não ter nada a ver com o povo de Kiribati, ursos polares, geleiras, a corrente do Golfo, ou o ciclo do carbono, devam agora ser tomadas em suas presenças, juntamente com inúmeros outros atores humanos e não humanos, se formos trabalhar na direção da composição de um mundo comum – uma habitável e respirável “casa” no planeta Terra. Talvez, o museu cosmopolítico possa vir a apresentar propostas através das quais “nós” pensemos em nossas decisões na presença daqueles outros desqualificados pelas fronteiras da nação, da espécie, do vivo, não no pressuposto de que partilhamos um mundo comum, mas de que estamos envolvidos no trabalho duro da sua composição.
Ben Dibley
http://climacom.mudancasclimaticas.net.br/?p=3019
O deus leitor
Abram os jornais. Mergulhem nas notícias Afoguem-se com o vendaval no Oriente. Explodam com o homem-bomba no deserto do Sinai. Lugares, nomes de lugares. Gente, nome de gente. Notícias, cheiro de tinta. Tudo é tão confortável. Mas quem poderia compreender o que está escrito a ponto de padecer fisicamente, ferindo seu corpo e sangrando com aquilo que lê, durante o ato mesmo de ler? Um novo deus leitor, pregado na cruz do que está escrito. Este mostraria quanto vale uma palavra.

Nuno Ramos
Há vários tipos de negacionistas e negacionismos: há os por assim dizer independentes e há os que, por baixo do pano, são pagos por grandes corporações, pelas companhias de carvão, petróleo e gás para produzir artigos de jornal baseados em falsas pesquisas científicas.[4] Mas há ainda um outro tipo de gente que, por motivos diferentes, ou “não aceita” a realidade das mudanças climáticas, ou aceita, mas “não tanto assim”. São pessoas até bem esclarecidas, que dizem frases como: “ah, nisso eu não posso acreditar”, “isso também não, aí já é demais”, “isso aí já é catastrofismo”... “Catastrofismo não”. Uma razão por que se nega o inegável (exceto pelas razões que acabamos de ver no caso americano e em muitos outros) é que isso que é inegável é também intolerável. Se fôssemos encarar diretamente o que temos pela frente, isso exigiria de nós, aqui e agora, muito mais do que estamos realmente dispostos a fazer.
Déborah Danowski
http://www.culturaebarbarie.org/sopro/outros/hiperrealismo.html#.WZw1MCjyhPY
Há dois lados, é verdade, mas não entre climatólogos e negacionistas climáticos. Há dois lados: aqueles que atualizam uma versão tradicional da ciência versus política e aqueles que compreenderam que essa antiga epistemologia política (para chamá-la pelo seu verdadeiro nome) é o que enfraquece tanto a ciência como a política no momento em que as questões em jogo tornam-se amplas demais para um número grande demais de pessoas envolvidas e diretamente impactadas pelas decisões de ambas. É aí que devemos realmente distinguir um acordo do Holoceno e um acordo do Antropoceno. O que pode ter sido bom para os Humanos (e duvido que isto já teria sido o caso) perdeu todo o sentido para os Terranos [Earthbound ]. O grande limite do antigo acordo era tornar impossível qualquer conexão da ciência com a política e não contra a política. Para tanto, é claro, seria preciso abandonar a ideia de que a política não é capaz de fazer nada além de distorcer os fatos!
(Bruno Latour)

http://www.revistas.usp.br/ra/article/viewFile/87702/90680
Para dar os devidos créditos, isso deveria ser chamado de “estraté- gia Luntz” – reverenciando o infame memorando endereçado por Frank Luntz ao Partido Republicano dos eua: “Se o povo passar a acreditar que as questões científicas estão estabelecidas, mudará de opinião quanto ao aquecimento global de acordo com elas. Portanto, vocês devem continuar a fazer da falta de certeza científica uma questão central”4 . O sucesso de Luntz nos diz muito da quantia de dinheiro gasta para alimentar negacionistas climáticos, mas também indica a fragilidade do sistema imunológico daqueles que usam o repertório ciência versus política. Parece que basta o mais fraco vírus para fazê-los duvidar e interromper o curso das políticas. Por conta desta visão esquisita – embora frequente no senso comum – de ciência versus política, não há como vacinar o público contra uma forma tão contagiosa de “ceticismo” – adjetivo pomposo que foi tantas vezes apropriado de maneira maliciosa.

(ALLAN ROGERIO VELTRONE)
https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/8776/TeseARV.pdf?sequence=1&isAllowed=y


Nossa hipótese é a de que a interdisciplinaridade de fato vem ocorrendo, mas dentro de certas condições. Em primeiro lugar, acreditamos que a participação das Ciências Sociais no debate tem sido bem menor do que a contribuição que poderiam dar. Em segundo lugar, acreditamos que a interdisciplinaridade, quando ocorre, ocorre de maneira hierárquica, sendo possível que somente as vertentes das ciências sociais que participam do debate, somente o fazem quando se valem dos mesmos parâmetros utilizados pelas ciências dominantes nas discussões sobre mudanças climáticas.
(ALLAN ROGERIO VELTRONE)
https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/8776/TeseARV.pdf?sequence=1&isAllowed=y
Dito de outro modo, na ciência das mudanças climáticas, nem todos os subcampos de pesquisa se comunicam e colaboram com os demais. Na verdade, a maioria não se comunica – ou se comunica muito pouco. Mesmo em campos relativamente próximos, como a modelagem climática da atmosfera e a meteorologia, muitas vezes há grandes dificuldades de comunicação e pouco esforço efetivo de integração devido a interesses de pesquisa divergentes (Sundberg, 2007). Quando se trata de campos ainda mais heterogêneos, como no caso das ciências humanas e das chamadas “ciências duras”, as dificuldades são ainda maiores. Sintoma disto são as diversas críticas que têm sido feitas ao Painel Intergovernamental sobre Ciências Climáticas, o mais prestigioso painel científico a produzir documentos sintetizando o estado da arte da literatura científica sobre as mudanças climáticas, por não incluir as ciências humanas em seus relatórios (Demeritt, 2001; Yearley, 2009; Hulme & Mahony, 2010; Victor, 2015; Carraro et alii, 2015). Há uma estrutura específica de fluxos de informação na ciência das mudanças climáticas que relaciona algumas áreas a outras, ao passo que também afasta certas comunidades de outras. Esta estrutura pode ser compreendida como o reflexo de processos de homogeneização dos estudos sobre o clima, particularmente do processo de translação realizado por modeladoras computacionais, de modo a adquirirem uma centralidade nessa área de pesquisa.
Tiago Ribeiro Duarte

http://www.scielo.br/pdf/se/v31n3/0102-6992-se-31-03-00821.pdf
negacionismo

dimensões humanas

público

fim de mundo
comum
Precisamos simplificar os conteúdos científicos para o público possa entender o que são as mudanças climáticas!
Bruno Latour: “O sentimento de perder o mundo, agora, é coletivo” - El País 31/03/2019

"Um fato deve estar instalado numa paisagem, sustentado pelos costumes de pensamento. São necessários instrumentos e instituições. As vacinas são o exemplo de um fato que precisa de uma vida pública. Se eu sair pela rua com uma seringa tentando vacinar as pessoas, serei considerado um criminoso. Se a vida pública é deteriorada por pessoas que consideram que – não importa o que você disser – este não é o mundo delas, os fatos não servem para nada."





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